quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

0028 - Arqueologia na zona ribeirinha de Lisboa



As obras na zona ribeirinha de Lisboa implicam, por princípio, a realização de trabalhos arqueológicos. Nesse contexto, as ínumeras intervenções já realizadas pela ERA têm permitido importantes avanços no conhecimento da forma como Lisboa se foi relacionando, ao longo dos séculos, com o Rio Tejo. O recente aparecimento de estruturas de cariz portuário na zona do Mercado da Ribeira é disso um excelente exemplo, devendo ser destacado o amplo conjunto de construções de madeira que remontam, pelo menos, ao século XVI. Aqui, lodos e água permitiram a conservação de elementos que raramente chegam aos arqueólogos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

0026 - Arqueologia, para quem?



Lisboa assistiu, nos últimos anos, à concretização de uma enorme quantidade de projectos de Arqueologia Urbana. Quase todos decorreram a propósito e em paralelo a intervenções de reabilitação ou requalificação urbana. A cidade muda e as intervenções sucedem-se, por vezes em torno de contextos arqueológicos de enorme importância científica e patrimonial. A ERA tem assumido a condução de diversas intervenções, algumas delas de grande envergadura e com impacto nítido em processos de produção de conhecimento.

Lisboa é um caso paradigmático e espelho das virtualidades e problemas da Arqueologia portuguesa. Formalmente existem níveis de exigência muito razoáveis, investe-se e concretizam-se muitas intervenções arqueológicas. No entanto, e Infelizmente, o cidadão comum de pouco ou nada vai sabendo: nem das pequenas ou enormes escavações, nem daquilo que permitem contar sobre o passado da sua cidade. A Arqueologia acontece escondida por tapumes, cristalizando-se em relatórios técnicos para arqueólogos.

A ERA tem procurado romper com este estado de coisas, indo para além das publicações científicas ou apresentações em congressos. Por isso, sempre que possível e quando os clientes aceitam, os trabalhos são devidamente sinalizados com informação específica para o público. É raro e muito pouco. Temos que ir claramente mais longe, demonstrando aos clientes que o seu investimento em Arqueologia pode ter como retorno muito mais do que um mero papel autorizando a sua obra a prosseguir.

Devemos insistir em mudanças de fundo que permitam activar publicamente a Arqueologia. De facto, não deveriam a tutela do Património e Arqueologia e a Associação Profissional de Arqueólogos estar empenhadas neste processo? Não deveria a legislação ser revista passando a enquadrar a Arqueologia, de forma inequívoca, como actividade ao serviço do cidadão? Não deveriam os processos de minimização de impactes sobre bens arqueológicos implicar, como obrigação por parte dos promotores, uma clara divulgação do que é concretizado e dos resultados produzidos? Não deveria a Arqueologia ser vista por todos, tornando-se verdadeiramente um bem Público?

Afinal, para que serve a Arqueologia?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

0025 - International Meeting

“Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices” 
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon
6 to 8 of November 2012.

APRESENTAÇÃO dos CONTEXTOS

Na apresentação de contextos podem ser vistas imagens de sítios que serão abordados durante o encontro e as respectivas localizações na Europa.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

0024 - A ERA e a Investigação Aberta nos Perdigões



O NIA (Núcleo de Investigação Arqueológica) da ERA, promoveu, em associação com o Departamento de Ciências da Vida (Antropologia) mais um ciclo de comunicações sobre resultados do projecto de investigação conjunto e em curso "Gestão da morte na Pré-História Recente: práticas funerárias no recinto dos Perdigões". Foi hoje, durante toda a tarde, na Universidade de Coimbra. Com cerca de 120 pessoas, principalmente estudantes universitários, foi possível dar conta dos resultados provisórios do projecto em curso e discutir problemas de fundo em termos de interpretação de fenómenos complexos e com inúmeras possibilidades de abordagem.

Os Perdigões são já um caso de estudo na forma como é idealizada e prosseguida a investigação científica em Portugal, efectivamente aberta a diferentes investigadores, com múltiplas abordagens, de diversificadas instituições e de vários países.

O nosso conceito de Projecto de Arqueologia em Construção implica também abertura ao exterior e o prestar de contas durante os processos de investigação, algo que ainda é difícil de gerir por parte de muito investigadores por esse mundo fora. Ou seja, não queremos processos desgarrados de investigação, fechados sobre si próprios e de resultados partilhados apenas entre pares. Idealmente, queremos mostrar como se faz investigação e como se constrói conhecimento. De alguma forma foi isso que hoje aconteceu em Coimbra. No Verão, durante as próximas escavações nos Perdigões, procuraremos comunicar especificamente para a população de Reguengos de Monsaraz.

A ERA-Arqueologia tem nos Perdigões um projecto “talismã”. Foi o nosso primeiro projecto e continua a ser uma das nossas “bandeiras”. E através dele verificamos sempre que a nossa Visão de uma Arqueologia virada para a sociedade é o único caminho sustentável. Ainda temos muito a construir nos Perdigões; mas através dele e de tantos e tantos projecto que a ERA já realizou, está demonstrado que este é o caminho: investigar, criar conhecimento, divulgar e ambicionar um Património para todos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

0023 - Colóquio Internacional

“Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices”

Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon
6 to 8 of November 2012.

Colóquio organizado pelo NIA. Ver programa e ficha de inscrição aqui

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

0022 - Pode ser bom; pode ser mau...



São cada vez mais os adeptos dos diagnósticos arqueológicos. Mas, na verdade, apenas daqueles em que, pela sua consistência, se torna possível verificar a importância científica e patrimonial de um sítio arqueológico e planear adequadamente futuras intervenções: as arqueológicas, ou outras relacionadas com o uso dos territórios. Para obter um bom diagnóstico, é fundamental competência técnica e científica, a que se acrescentam a capacidade de organização e de mobilização dos recursos adequados.

Mas o diagnóstico, que deve ser realizado a tempo e horas, pode ser apenas o princípio de um longo caminho. Que aqueles que são bem feitos ajudam a conhecer previamente, evitando-se surpresas de maior. Assim, é um erro crasso esquecer os dados de um diagnóstico consistente , apesar de, por vezes, ser tentador empurrar para longe aquilo que demonstra, quase sempre: erros daqueles que planearam antes de conhecer (ou procuraram sequer conhecer) os resultados da Arqueologia.

Infelizmente, como sabemos, em Portugal temos enormes problemas de planeamento e, por isso mesmo, não estranhamos que em Arqueologia ainda se trabalhe tão mal a esse nível.

Por isso, temos tantas obras em que a Arqueologia, apesar de limitada a áreas restritas, depois de se “instalar”, parece nunca mais terminar. Nesses casos, donos de obra promovem trabalhos de Arqueologia sem que aqueles que os realizam se comprometam com objectivos claros, datas, recursos ou custos. É o típico, “vai-se andando”, “vai-se vendo o que aparece”, vai-se deixando andar uma Arqueologia descontrolada e, quase sempre, concretizada com recursos desadequados. Curiosamente, tudo isto é mais típico de empreendimentos públicos. Infelizmente. Porque, no final, pagamos todos nós demais e o Património sai, quase sempre, muito mal tratado.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

0021 - Conservadores Restauradores e Construção Civil



A grande vantagem da inclusão de conservadores-restauradores em projectos de construção civil aplicada à reabilitação de edifícios antigos reside na capacidade de, face ao objecto original, obter resultado finais de maior qualidade e coerência.

A ERA-Arqueologia especializou-se no fornecimento de serviços de elevada qualidade técnica, garantindo aos clientes aquilo que normalmente não têm, porque se trata de algo muito especializado: forte conhecimento das técnicas e matérias utilizados pelos construtores de monumentos desde a pré-história ao nosso tempo. Mas não só. Acresce ainda a experiência acumulada no saber fazer como se fazia.

O caso mais recente e ainda em curso é o da requalificação de troços muito amplos do sector Oeste das muralhas de Elvas. Neste caso, tutela, dono-de-obra (Município de Elvas) e cliente compreenderam as vantagens de uma boa coordenação de trabalhos pela nossa equipa de Conservação e Restauro.

Em tempo de crise, alguém continua a tratar do nosso Património.

Conservador-Restaurador coordenador: Pedro Braga
Técnico de Conservação e Restauro: Bruno Moreira



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

0020 - 10º Colóquio ERA Arqueologia

Dia 10 de Março, Auditório do Metropolitano de Lisboa (estação Alto dos Minhos), Lisboa

10.00 - Abertura
10.15 - 11.45 - Miguel Lago, Luís Raposo; Carlos Fabião: Debate: Que caminhos para a Arqueologia ?
12.00 - 12.45 - António Carlos Valera e Lucy Evangelista: Ídolos e figuras dos Perdigões: tipos, contextos, e problemas de representação e sentido.
15.00-15.30 - Marina Pinto: Fragmentos da história da cidade de Évora: o caso do Palácio da Inquisição / Casas Pintadas; Palácio dos Condes de Basto e Pátio de S. Miguel.
15.30 -16.00 - Iola Filipe e Hugo Silva: Escadinhas de São Crispim, Lisboa: a evolução de um espaço entre o período romano e a actualidade
16.00-16.30 - Alexandre Sarrazola e Marta Macedo: Rua do Passadiço: uma ocupação romana de Lisboa na periferia rural de Olisipo
16.45-17-15 - Inês Simão e Rui Ramos: Eira Velha. Uma "área de Serviço" romana na periferia de Conimbriga.
17.15-17.45 - António Valera e Jorge Parreira: "Concheiros e ritualidade no Calcolítico: problemas levantados pelas novas escavações em V.N. de Mil Fontes.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

0019 - Holocénico revisitado (3)

Em Abril de 2004 escrevi:

"Sempre achei interessante o recurso ideológico à ideia de Estado de Natureza e ao Direito Natural. É engraçado ver Rousseau defender um estado de natureza em que o Homem vivia numa harmonia e igualitarismo idealizados, situação que se havia perdido pela introdução da propriedade (o mal de todos os males), gerando a desigualdade e com ela a infelicidade dos Homens, propondo o seu contrato social (que não abole a propriedade privada, mas condiciona-a) como forma de reposicionar esse equilíbrio social perdido. No contexto do século XVIII, eram ideias que respondiam aos anseios de uma pequena/média burguesia francesa.
Não menos engraçado é ver Thomas Hobbes a defender um Estado de Natureza radicalmente diferente, onde o Homem vive em completa anarquia e conflito, movido pelo egoísmo, onde o “Homem é o lobo do Homem”, sendo a sua organização em sociedade dependente de um poder centralizado (concentração de poderes através de um contrato social) que o civilize e lhe permita viver em harmonia e atingir a paz e a felicidade. Uma legitimação clara do poder absoluto e uma inequívoca contestação do parlamentarismo em consolidação na sociedade inglesa do século XVII.
As ideias de que o Homem é por natureza bom, e a sociedade o corrompeu, ou que o Homem é por natureza mau (animal) e que a organização em sociedade o civilizou e lhe limou (mas não aboliu) essa animalidade, acabam por ser as duas faces da mesma moeda, que remetem para uma ideia de essência humana, algo ahistórico, de que nos podemos afastar, mas a que poderemos sempre voltar.
O debate em torno da universidade por vezes lembra-me esta situação. Estará a universidade apenas afastada, perdida, do seu estado de natureza “bom”, necessitada de um contrato social que permita salva-la e repor-lhe a Harmonia que idealizamos para uma comunidade que se rege por princípios éticos, de mérito e de qualidade inquestionáveis (onde o branco, a pureza e o conhecimento se associam, na figura de Cândidos não tocados pela maldade)? Ou, pelo contrário, as situações que existem são o melhor “contrato” que conseguimos fazer para limar, para domesticar, os rasgos de animalidade hobbesiana que caracterizarão a natureza humana?
Enfim, a comparação é puro divertimento e mera associação de ideias, mas pode dar que pensar."

Os contornos da actualidade arqueológica levam-me a pensar, numa perpectiva muito pessoal (que sempre foi a minha), que vivemos tempos "hobbesianos" sob bandeiras pseudo "rousseauanas". "Centralistas" (ou os esperançados em beneficiar dos favores do centralismo), esquecendo o que caracteriza os seus espaços domésticos, apelidam os restantes de "canibais". Pretendentes a "Rei Sol" colocam estrategicamente os seus peões, na esperança de amanhãs que cantem queridos líderes. Outros declaradamente se confessam "pecadores" por participarem de uma dinâmica colectiva liberalizadora, para, sem deixar de recolher os benefícos por ela proporcionados, se declararem apóstolos de associativismos ditos "desinteressados" e tocados pela divina compreensão do bem público.

Mas se a hipocrisia é geral e a teorização sempre interessada, como avaliar e optar? Olhando simplesmente ao que se faz. É ainda a melhor forma de avaliar. Olhem ao que cada um faz.

António Carlos Valera

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

0018 - A estação arqueológica do lugar da Amoreira, São Martinho da Árvore (Coimbra)

Intervenção de diagnóstico. Crónica de um breve episódio (Era, Janeiro de 2012)



«Ó meninos, isto são casas dos moiros? É que nesta terra morava a família – já muito antiga – do engenheiro Moura. Diz-se que havia por cá ouro dos moiros a luzir neste campo do engenheiro Moura. É verdade?». Estava lançada a confusão (não só onomástica como também fonética) sobre aquela escavação arqueológica. À nossa azáfama quotidiana vinha juntar-se o trânsito ansioso de velhas senhoras, crianças ladinas e homens de provecta idade que nos indagavam continuamente, «Sempre são casas dos moiros? E a nossa casa do Centro de Dia para os velhos, já não se constrói?». Como desatar este nó cego de equívocos, mitos locais e as justas preocupações do imediato? Da mesma velha maneira de desatar todos os nós: com paciência, disponibilidade e perseverança, «Não Senhor Custódio, ninguém lhe vai tirar o Centro de Dia nem estas casas são do tempo dos mouros. Obrigado pela tangerina. Sente-se aqui ao meu lado que eu tento explicar-lhe, já que mo pede. É assim então: há já muitos anos, pelo menos desde o século XIX, que se fala de existir aqui um sítio arqueológico. E é bem verdade. Têm sido encontrados por estes campos muitos vestígios romanos. Acontece que agora a Câmara Municipal projectou construir aqui o Centro de Dia. Como funcionam as coisas? Muito bem: antes da obra é necessário fazer trabalhos arqueológicos que nos deixem conhecer a história deste local. Sim, são compatíveis. E note bem: uma terra sem memória é como uma pessoa sem recordações, já pensou nisso? ... Pois claro, o que encontrámos? Estes muros que vê à sua frente são os caboucos dos casões e dos currais de uma quinta do tempo dos romanos, provavelmente aquilo a que chamamos a pars rustica de uma villa. A cerâmica descoberta, por exemplo a terra sigillata – a baixela equivalente à nossa Vista Alegre - assim as como moedas e fíbulas – que são os alfinetes de prender as togas aqui no ombro – são de há cerca de 1500 anos, um tempo em que o Império Romano se estava a desagregar aqui nesta zona da Península Ibérica. E olhe bem estas vasilhas cinzentas: são iguais às que os oleiros daqui da zona faziam muito antes de chegarem os romanos. Sim, pode bem querer dizer que isto é terra de gente de fibra... Se vão ter um muro destes no jardim do Centro? É possível.»



Voltávamos à rotina das nossas tarefas. Enquanto colávamos o logótipo da Era num dos desenhos de campo, ouvíamos ao fundo do pomar a voz do Senhor Custódio, «Ó Perpétua, isto não é nada dos moiros, vem cá para te contar...».

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

0017 - Comunicar para quebrar barreiras




Divulgar os resultados dos projectos que concretizamos é essencial para cumprir a nossa missão. Em Portugal, faz-se muita Arqueologia e, apesar dos problemas, os investimentos são avultados. Infelizmente, para além dos níveis de exigência dos arqueólogos e da sociedade serem relativamente baixos, é gritante uma generalizada dificuldade em comunicar aquilo que ao longo dos dias, meses ou anos se vai fazendo por este país fora. Os clientes pagam e normalmente apenas recebem um "papel" que permite avançar uma obra; os arqueólogos, na sua maioria desmotivados, mergulham em rotinas sem grande sentido; a tutela, desmantelada e sem rumo concreto, pouco mais faz do que condicionar um pouco a realidade. Quanto aos cidadãos, de quase nada sabem, mesmo quando têm Arqueologia à porta de casa. Tudo isto porque quase ninguém comunica.

Todos saímos a perder com este estado de coisas. E por isso, a ERA continua inconformada e a prosseguir um esforço permanente de divulgação.

Hoje foi mostrado a uma equipa um vídeo sobre o projecto em curso no terreno (projecto da Omniknos, empresa do grupo da ERA). Uma produção profissional que constitui uma experiência inovadora. No fundo, uma homenagem a todos os que tornam real o projecto: arqueólogos, operários, cliente, tutela. O próximo passo é o público em geral. Porque a Arqueologia tem que quebrar barreiras e abrir-se à sociedade que deve servir.