quarta-feira, 28 de março de 2012
0033 - NIA nas Universidades
O NIA tem como uma das suas funções a articulação com o mundo universitário, tanto no plano da investigação como no da formação. Tarefa que desenvolve no plano nacional e internacional.
No corrente mês de Março as problemáticas relativas aos recintos de fossos da Pré-História Recente portuguesa foram apresentadas na Universidade de Bradford e na Universidade de Oxford, em Inglaterra.
Durante o mês de Abril as conferências transferem-se para Universidades portuguesas. A 12 de Abril, pelas 17.30 na Universidade do Algarve, e a 18 de Abril, pelas 14.30 na Faculdade de Letras da Universidade do Porto" será apresentada a conferência "Os Perdigões e os seus contextos: um olhar problematizante". No dia 26 de Abril será a vez da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pelas 18.00, com a conferência "Abordagem arqueoastronómica aos recintos da Pré-História Recente.
Nelas apresenta-se investigação: novos dados empíricos, reflexão e problematização, enunciados de síntese (como sempre, dotados de precaridade). De facto, é possível fazer boa ciência e ter uma projecção e valorização nacional e internacional, em contexto empresarial.
Não é, seguramente, fácil. Mas é possível
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quinta-feira, 22 de março de 2012
0032 - O que fazer com os espólios?
Esta é uma pergunta perturbadora. Na Arqueologia portuguesa abundam os tabus, certos assuntos de que quase ninguém fala. Um deles é o da vacilante política de gestão de espólios.
A situação é, genericamente, desastrosa: descontrolo sobre inventários e locais de depósito; descontrolo relativamente às condições ambientais dos depósitos; descontrolo no que respeita à segurança dos locais de reserva. O Estado, a que cabe a guarda dos materiais arqueológicos resultantes de escavações, a sociedade em geral e o meio científico não sabem o que temos em depósito, em que estado de conservação se encontram os materiais, quem tem colecções ilegalmente na sua posse ou que artefactos já terão sido roubados ou traficados...no entanto, as consciências parecem estar tranquilas. É um silêncio ensurdecedor.
Como em tudo, devemos saber tomar e assumir opções. O absoluto não existe em Arqueologia (como provavelmente em quase nada na vida) daí que seja impossível idealizar que registamos, recolhemos e guardamos tudo. Dispomos dos meios técnicos e científicos do nosso tempo e estamos limitados logística e financeiramente pelo nosso contexto. Como somos homens, muito nos escapa e lemos a realidade de acordo com as nossas limitações. E sendo a realidade imensa, certamente será impossível guardar tudo. É, seguramente, uma missão impossível.
Parece-me preferível reenterrar, de forma criteriosa e selectiva, materiais arqueológicos recolhidos. É preferível fazê-lo, de forma assumida e consciente, a manter uma hipócrita postura de grande preocupação pelo tratamento dos mesmos, esquecendo as condições de que se dispõe para os armazenar e preservar. A ERA-Arqueologia entrega regularmente colecções nos mais inacreditáveis depósitos legais: lavados, marcados, acondicionados, contentorizados. Quantos anos resistirão às péssimas condições? Para quê o faz de conta? Porque será que quase nunca se fala deste assunto, em que o Estado é responsável perante a lei? Porque será que a tutela da Arqueologia continua, ano após ano, a permitir que arqueólogos e empresas de Arqueologia não cumpram a lei?
Não esqueçamos, no entanto, que futuras opções a tomar, mesmo que assumidas, não devem nunca branquear baixos níveis de exigência da nossa Arqueologia. Para isso não contém com a ERA.
quinta-feira, 8 de março de 2012
0031 - A Era regressa à Ameixoeira
A Era-Arqueologia realizou mais uma sessão com o público mais novo, destinada a transformar o contacto com a Arqueologia e com a Pré-história numa experiência divertida e de elevado potencial didáctico. Na deslocação à EB1/JI das Galinheiras (freguesia da Ameixoeira, Lisboa) o objectivo foi transmitir conhecimentos sobre a Arqueologia e a Pré-história de forma amena e divertida e assim despertar a curiosidade sobre os temas arqueológicos e promover o respeito pelo património histórico-arqueológico. Na base está a ideia de que não se pode gostar daquilo que não se conhece.
Contámos aos alunos o que é que fazem os arqueólogos, donde é que vem a informação que encontram nos seus livros de história, de que maneira é que os objectos que encontramos enterrados podem contar histórias sobre o passado, o que diriam os objectos que usamos se fossem interpretados por arqueólogos do futuro, o que é uma estratigrafia arqueológica, etc.
A experiência diz-nos que esta abordagem pragmática, para além de promover uma compreensão mais profunda sobre a intensa ocupação, ao longo de milhares de anos, do território que hoje habitamos, gera uma vinculação positiva entre as crianças e o património arqueológico que subjaz a todos os passos do seu dia-a-dia e que devem cuidar e respeitar.
Esta iniciativa integra-se na parceria que a Era Arqueologia mantém, há já algum tempo, com o projecto Tesouros da Ameixoeira(http://www.facebook.com/tesouros.ameixoeira).
Coordenação de Projecto: Lucy Evangelista e Mafalda Capela
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terça-feira, 6 de março de 2012
0030 - Mais madeira, mais informação, mais conhecimento.
Em Lisboa, em área adjacente ao Mercado da Ribeira, a ERA continua a realizar trabalhos de acompanhamento arqueológico de obras e de escavações arqueológicas, sempre a natureza e relevância dos contextos o justifica. Os elementos agora postos a descoberto, caracterizados por uma ampla e complexa estrutura de madeira, ajudarão a contar a história da relação de Lisboa com o seu rio, nomeadamente ao nível do comércio e da construção e reparação na naval. O projecto de Arqueologia prossegue, plenamente articulado com a obra.
domingo, 4 de março de 2012
0029 - Oportunistas ou irresponsáveis?
A Arqueologia estrutura-se, em parte, a partir de fontes que são finitas. De facto, por muitos restos que nos cheguem dos vários períodos históricos que nos antecederam, a sua descoberta, normalmente atingida através de escavações, vai “consumindo” as nossas possibilidades de abrir essas janelas sobre o passado. Por isso mesmo, a escavação de um sítio arqueológico, nomeadamente de contextos particularmente raros, deve ser muito bem ponderada: se estamos perante um recurso finito e limitado, devemos assumir uma postura de humildade ao proceder à sua efectiva eliminação. Não esqueçamos que qualquer escavação arqueológica é irrepetível; aquilo que hoje escavamos só poderá ser revisitado através do que registarmos.
Não tenho dúvidas em considerar que a Arqueologia portuguesa assenta em relativamente baixos níveis de exigência. Poucos o discutem e ainda menos são os que procuram alterar o estado de coisas. Por isso, os resultados finais dos projectos ficam demasiadamente sujeitos aos critérios das diversas equipas que vão actuando por este país fora, favorecendo-se os mais incompetentes ou oportunistas. Em casos como os da ERA, temos preocupações e uma Visão do que é o papel de responsabilidade, exigência e de inovação que devemos desempenhar. Mas outros casos existem em que a Arqueologia mais não é do que uma actividade de afectação de mão-de-obra em que nada se procura atingir do ponto de vista do conhecimento do passado.
A gestão dos sítios arqueológicos é também uma gestão de fontes de informação. Em muitos casos, é em fase de Estudo de Impacto Ambiental que as decisões começam a ser mal tomadas, sendo muitos os exemplos de más decisões assentes em informação muito limitada, apesar das hipóteses de efectiva recolha prévia de dados consistentes. Disso são exemplo os casos de grandes sítios arqueológicos que estão a ser escavados no âmbito da construção de várias auto-estradas, sem que nada deles tenha sido detectado em fase de avaliação prévia. Ou seja, fazem-se os estudos, tomam-se as decisões sobre grandes obras e, depois, em fase de obras, quando as opções são muito limitadas, surgem os problemas porque aparecem os sítios que ninguém detectara. Então, o tempo já é escasso, os recursos financeiros não estão disponíveis porque não foram previstos e os trabalhos que se realizam acabam por ser limitados à recolha dos dados mais evidentes e à elaboração de relatórios muito superficiais.
Estaremos a ser conscienciosos com a gestão de fontes de informação finitas? Estaremos a gerir correctamente o nosso território, tendo em consideração que nele residem tais janelas para o passado? Estará a nossa sociedade a beneficiar com a actual gestão dos recursos? E que pensarão os nossos herdeiros das decisões que tomamos? Por tudo isto, julgo que devíamos ser muito mais exigentes com o nosso tempo e com as nossas opções. Que deveriam ser muito mais debatidas e partilhadas socialmente. Não estaremos a ser, sobretudo, oportunistas e irresponsáveis?
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