sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
085 - Mais uma afectação de património arqueológico
Hoje deparei com mais uma afectação de um recinto de fossos (mais um dos grandes e complexos) no interior alentejano, realizada no âmbito das reconversões agrícolas. Poderão ver aqui a situação: http://portugueseenclosures.blogspot.pt/2017/12/0384-sad-christmas-present-in-winter.html
O problema continua o mesmo: o circuito de informação está desajustado. Os projectos agrícolas não passam por autarquias e tutela do património, que controlam a informação sobre o património arqueológico, mas pelo Ministério da Agricultura, que a ignora e, aparentemente, pretende continuar a ignorar. Os proprietários, com menor ou maior conhecimento, são os menos responsáveis, pois não há estratégia para articular com eles um verdadeiro projecto de compatibilização e de desenvolvimento sustentado (com atenção equilibrada a todas as variáveis envolvidas - e onde a ambiental também não é a menos preocupante).
A reconversão agrícola do Alentejo, tão fundamental para o desenvolvimento económico e social da região e do país, está a ser feita sem atenção à noção de Desenvolvimento Sustentável (quase a fazer lembrar as campanhas do trigo do século passado). A obliteração de património ocorre a um ritmo alucinante, sem que a respectiva tutela procure retificar o circuito administrativo que a permite. Não será do lado da agricultura que virá a iniciativa e desse lado, suspeito (por conversa informal com o responsável da pasta), não há grande interesse em fazer parte da solução.
A iniciativa terá que vir de um ministério da Cultura, que tutela o património e a prática aqueológica, mas que é habitado por um ministro invisível no que a estas matérias respeita (questiono-me mesmo se ele estará consciente que o património arqueológico é da sua responsabilidade política). Como escrevi no Editorial da revista Apontamentos de Arqueologia e Património que será lançada no início de Janeiro, o património arqueológico não tem advogado à mesa do Conselho de Ministros.
Diria que estamos numa fase de estímulo a um Alzeimer colectivo, de perca paulatina de memória. Um dramatismo menos mediático e imediato. Mas bem mais estrutural.
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