Entretanto, não deixem de consultar os resumos das comunicações a ser
apresentadas.
Justificação
e Objectivos de um projecto FCT
António Carlos Valera
Serão
apresentadas as razões que conduziram à concepção e desenvolvimento do projecto
“Práticas funerárias da Pré-História Recente no Baixo Alentejo e retorno
sócio-económico de programas de minimização de impactes” aprovado e financiado
pela FCT e os objectivos que se pretenderam alcançar. Esta comunicação servirá
de introdução às quatro que se seguem e que apresentarão resultados de uma das
dimensões de investigação que integraram o projecto.
Arqueologia
de Salvamento: Oportunidade Estratégica ou Custo Afundado?
Patrícia Caldeira Jorge
A Arqueologia de Emergência é vista como um custo
irrecuperável, algo que se cumpre para não incumprir. Mas e se dela puder
emanar um admirável mundo novo de alternativas que torna o custo de
oportunidade de não fazer nada incomportável para o promotor e para a
sociedade? Quanto custa a uma comunidade ou a um promotor perder a oportunidade
de se diferenciar ou de criar novos produtos e serviços? A Arqueologia deve
estar ao nível do pensamento estratégico, toca nas pessoas, nos seus valores e
na sua ética, o que de mais nobre uma marca quer transmitir ao mercado ou um
lugar pode ambicionar. Numa altura em que tanto se escrutinam as questões da
sustentabilidade pode continuar a passar-se ao largo da riqueza de conhecimento
gerado pela arqueologia de salvamento e não a accionar? Como as regiões podem
dar alento a novos projectos e às suas gentes a partir do conhecimento gerado:
a Arqueologia como rastilho do ânimo económico, exemplos paradigmáticos.
O
Valor Social de Programas de Valorização do Património Cultural: O Caso de
Brinches e Sobreira de Cima
Isabel Mendes and Manuel Coelho
Lisboa School of Economics and Management,
University of Lisbon
Nesta comunicação, pretendemos analisar as
alterações no bem-estar das comunidades locais, associadas à implementação de
um hipotético programa de valorização do conhecimento arqueológico obtido
através de actividades de arqueologia de salvação, implementadas na região de
Brinches e de Sobreira de Cima. Para tal, usaremos um dos métodos de
quantificação monetária de externalidades, o método da Valorização
Contingencial (VC). Este método baseia-se na análise qualitativa e quantitativa
das preferências que as pessoas expressam por alterações no capital natural e
patrimonial, permitindo quantificá-las num único valor monetário. Este valor
monetário é uma proxi para o valor económico do programa de valorização
hipotético proposto e para as alterações do bem-estar das populações a ele
associadas. A população da região mais directamente afectada pelo programa
demonstrou ter uma preferência positiva relativamente elevada pelo programa,
declarando uma disposição individual máxima em contribuir mensalmente e durante
cinco anos para o co-financiamento da sua hipotética entidade gestora, com 0.66
(1.24) euros. Concluímos que o programa tem um valor aproximado de 1 325 339,63
euros (2 490 032,04 euros). As nossas estimativas são coerentes com outras,
como o demonstra a análise da literatura e da prática da valorização económica
de decisões que impliquem alterações no património cultural. Estas estimativas
deverão ser, no entanto, utilizadas com os cuidados de utilização habituais
para qualquer estimativa obtida com base nestes métodos de valorização
económica de alterações do bem-estar social. As estimativas podem ser
utilizadas no processo de tomada de decisão sobre o património cultural da
região, ao facilitar as respostas a questões como: deverá a sociedade gastar
recursos escassos com a valorização cultural, quando a quantidade e o tipo de
benefícios, e o retorno dos respectivos investimentos, são imprevisíveis e de
difícil percepção e de quantificação? Que entidades deverão financiar o
processo de valorização? Até que ponto as comunidades estão dispostas a aceitar
e a comprometer-se, activamente, no processo de valorização?
Uma
questão de comunicação....para começar a conversa!!!
Ana Calapez Gomes
A construção e sustentação de redes de entidades
heterogéneas é indispensável tanto ao financiamento como à implementação de
projetos de desenvolvimento a nível territorial. A questão da qualidade do
fluxo de informação e comunicação entre as partes envolvidas, a nível local e
não só, decorre desta necessidade, assim como a confiança indispensável a
qualquer ação baseada na cooperação.
Portugal tem uma velha tradição de isolamento
grupal associado a uma diferenciação social e de poder muito marcada, o que
dificulta o estabelecimento de relações entre pares cooperantes. A região do
Alqueva não foge a esta regra.
Com base na análise de conteúdo de 35 entrevistas
semidirigidas constatámos a inexistência de conflitos fraturantes na região, no
entanto, os fluxos de comunicação apresentam apenas um sentido horizontal
(entre pares) e vertical (de cima para baixo). A comunicação vertical (de baixo
para cima) é escassa e os fluxos transversais praticamente inexistentes. Sendo
assim, as condições para a criação de redes de atores sociais cooperantes não
estão criadas, pelo que advogamos uma intervenção/ acompanhamento baseado em
entidade apercebida como neutral.
Criatividade
e clustering na valorização turística em arqueologia de salvamento
Idalina Dias Sardinha, David Ross, Sandra Loureiro
O património arqueológico representa actualmente
uma parte importante da oferta turística do Baixo Alentejo.
A intervenção arqueológica decorrente dos estudos
de impacte ambiental da barragem do Alqueva produziu resultados que permitem
compreender melhor a história da ocupação humana deste território, apresentando
potencial para enriquecer a oferta de actividades culturais e turísticas com
base na arqueologia. Porém, tendo em conta que a maior parte dos achados foi
destruída para dar lugar às infraestruturas da barragem e sistema de rega, a
sua valorização turística não é possível nos moldes tradicionais (i.e. visita a
locais arqueológicos).
Para compreender como se pode valorizar esse
património arqueológico inacessível aplicou-se uma abordagem com base em:
entrevistas semi-dirigidas aos stakeholders regionais do turismo e património e
aos promotores de obras responsáveis pelos estudos de impacte ambiental
efectuados; foi também aplicado um questionário a turistas e residentes na
região.
Os resultados fundamentais mostram que há interesse
por parte dos inquiridos em integrar o conhecimento arqueológico na oferta
turística existente, bem como os desafios inerentes, e indiciam a existência de
um proto micro-cluster de turismo arqueológico na região. Após análise crítica
e comparativa com outros trabalhos, estes resultados sugerem que a valorização
deste recurso intangível deve passar por: i) uma abordagem de valorização
inovadora à luz do turismo criativo; e ii) um trabalho de cooperação entre os
actores envolvidos num processo de crescimento e clustering temático.
Este trabalho apresenta as limitações, estrutura e
condições para esta abordagem criativa e processo de clustering.
O
hipogeu calcolítico do Monte da Comenda 3
Sandrine Fernandes e Sónia Ferro
Quinta
do Estácio 6. Exemplo de longa diacronia de um espaço de necrópole
(Calcolítico, Idade do Bronze, Idade do Ferro)
Tiago do Pereiro e Rui Mataloto
O sítio Quinta do Estácio 6 (Beja) foi
intervencionado por uma equipa Era Arqueologia/Omniknos no âmbito de trabalhos
de minimização de impactes sobre o património arqueológico decorrentes da
construção do Circuito Hidráulico Baleizão-Quintos e Respectivo Bloco de Rega
(EDIA). Em cerca de 1.5km de vala aberta foram identificadas cerca de 168
estruturas perfazendo um total de 378m2 de área escavada. Estas estruturas
apresentavam uma ampla diacronia, desde o Neolítico Final até à Época Romana,
representado por estruturas de âmbito doméstico e contextos funerários. Nesta
apresentação dar-se-á destaque aos contextos funerários, nomeadamente à
Necrópole da Idade do Ferro, representada por 2 Recintos e oito sepulturas.
A
produção de cal no período romano – O sítio do Magra 3 (Baleizão)
Lúcia Miguel
O sítio do Magra 3 corresponde a uma área
industrial vocacionada para a extração e transformação da pedra calcária em
cal, com uma dinâmica de ocupação enquadrada no séc. I d. C, na qual é possível
distinguir áreas de combustão, áreas de despejo e áreas de extração de
matéria-prima.
Neste local foram identificados 8 fornos,
implantados numa vertente relativamente acentuada no sentido de facilitar o
acesso por baixo à câmara de combustão, escavados directamente no substrato
rochoso, sendo ainda percetíveis em algumas zonas restos de argila de
revestimento.
A escavação destes fornos permitiu a identificação
de várias fases de ocupação, percetíveis através das remodelações e
reconstruções existentes, sobretudo no que diz respeito às antecâmaras de
acesso aos mesmos.
A datação obtida para este local (meados do séc. I
d.C) aponta inequivocamente para uma utilização intensiva destinada ao
abastecimento da cidade de Pax Julia (actual Beja).
Fracassos
e novas práticas: repensar a avaliação de impactes em arqueologia
Miguel Lago
Pretende-se analisar os principais problemas que se têm colocado ao
longo dos anos às equipas de avaliação de impactes e de gestão de projectos de
obras que incluem componentes de arqueologia. Em Portugal os vestígios arqueológicos
relevantes são, na maioria dos casos, detectados em fase de obras, decorrendo
desse facto decisões mal ponderadas e informadas bem como constrangimentos à
gestão dos projectos e à monitorização das medidas de minimização. Este
problema tem origem na forma deficiente como são elaborados os Estudos de
Impacto Ambiental. Face à experiência acumulada pela ERA Arqueologia pondera-se
uma alteração de paradigma e apresenta-se um modelo de actuação mais eficiente
que forneça aos parceiros envolvidos nestes processos e na execução de obras
novas perspectivas de decisão e de gestão de projectos.
Vinte
anos de arqueologia empresarial.