A esmagadora maioria dos projectos de Arqueologia realizados em Portugal são concretizados por empresas e são estas que gerem aquela que é, de longe, a mais significativa fatia de financiamento anual aplicado nesta área.
Este paradigma foi criado pela nossa sociedade de
fundamentos essencialmente capitalistas e liberais. A estrutura do Património arqueológico
em que nos movemos assenta num Estado licenciador e fiscalizador. A quase total
incapacidade de investimento público nesta área deixa aos promotores de
empreendimentos e a título indemnizatório o encargo de investir em Património:
quem afecta, paga.
A tese poderia ser pacífica se os investimentos realizados
de acordo com este modelo fossem consequentes e reprodutivos, ou seja, se
fossem geradores de conhecimento, se contribuíssem para a salvaguarda do
Património, se promovessem valores de civismo e se estimulassem o usufruto do
Património pelos cidadãos. Infelizmente, na maior parte dos casos os projectos
concretizados não decorrem com a necessária qualidade e a sua visibilidade para
o exterior é nula. Dessa forma, muitos são os casos em que o investimento é
realizado apenas para garantir um “papel” para que determinadas obras avancem.
O êxito de uma Arqueologia efectivamente Pública implica a
criação de pontes entre os que a concretizam, aqueles que a pagam e os que lhe
dão continuidade. É aqui que surge a articulação entre empresas e
universidades. Para ampliar as possibilidades de gerar conhecimento a partir dos
investimentos realizados, as universidades e as empresas da área da Arqueologia
devem trabalhar em conjunto porque são elos de uma cadeia que liga os vestígios
do passado com os cidadãos de hoje e do futuro. O ritmo de descoberta e de
escavação de tantos e tantos sítios arqueológicos absolutamente relevantes implica
uma forte responsabilidade, devendo empresas e universidades actuar de maneira
a potenciar os recursos de criação de conhecimento que encerram os vestígios do
passado.
O Colóquio da ERA, a realizar no próximo fim-de-semana,
assenta numa saudável parceria com a Universidade Nova de Lisboa. Colaborar
pode não ser fácil porque implica que nos descentremos sempre um pouco do nosso
próprio foco. Mas aqueles que tiverem a Visão mais ampla e se dispuserem a alargar
os seus horizontes terão mais hipóteses de cumprir a sua obrigação para com a
sociedade e para com o nosso Património colectivo. Colaborando, empresas e
universidades podem crescer, melhorar o seu desempenho e contribuir para a
sociabilização da disciplina.
Sem comentários:
Enviar um comentário