domingo, 10 de fevereiro de 2013

043 - Dois elos da cadeia arqueológica: empresas e universidades





A esmagadora maioria dos projectos de Arqueologia realizados em Portugal são concretizados por empresas e são estas que gerem aquela que é, de longe, a mais significativa fatia de financiamento anual aplicado nesta área.

Este paradigma foi criado pela nossa sociedade de fundamentos essencialmente capitalistas e liberais. A estrutura do Património arqueológico em que nos movemos assenta num Estado licenciador e fiscalizador. A quase total incapacidade de investimento público nesta área deixa aos promotores de empreendimentos e a título indemnizatório o encargo de investir em Património: quem afecta, paga.
A tese poderia ser pacífica se os investimentos realizados de acordo com este modelo fossem consequentes e reprodutivos, ou seja, se fossem geradores de conhecimento, se contribuíssem para a salvaguarda do Património, se promovessem valores de civismo e se estimulassem o usufruto do Património pelos cidadãos. Infelizmente, na maior parte dos casos os projectos concretizados não decorrem com a necessária qualidade e a sua visibilidade para o exterior é nula. Dessa forma, muitos são os casos em que o investimento é realizado apenas para garantir um “papel” para que determinadas obras avancem.
 
 
O êxito de uma Arqueologia efectivamente Pública implica a criação de pontes entre os que a concretizam, aqueles que a pagam e os que lhe dão continuidade. É aqui que surge a articulação entre empresas e universidades. Para ampliar as possibilidades de gerar conhecimento a partir dos investimentos realizados, as universidades e as empresas da área da Arqueologia devem trabalhar em conjunto porque são elos de uma cadeia que liga os vestígios do passado com os cidadãos de hoje e do futuro. O ritmo de descoberta e de escavação de tantos e tantos sítios arqueológicos absolutamente relevantes implica uma forte responsabilidade, devendo empresas e universidades actuar de maneira a potenciar os recursos de criação de conhecimento que encerram os vestígios do passado.
 
O Colóquio da ERA, a realizar no próximo fim-de-semana, assenta numa saudável parceria com a Universidade Nova de Lisboa. Colaborar pode não ser fácil porque implica que nos descentremos sempre um pouco do nosso próprio foco. Mas aqueles que tiverem a Visão mais ampla e se dispuserem a alargar os seus horizontes terão mais hipóteses de cumprir a sua obrigação para com a sociedade e para com o nosso Património colectivo. Colaborando, empresas e universidades podem crescer, melhorar o seu desempenho e contribuir para a sociabilização da disciplina.

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