Sem investigação a Arqueologia não faz sentido.
Considero que um dos problemas mais graves da Arqueologia
portuguesa assenta no facto das problemáticas inerentes à investigação
científica não serem plenamente condicionantes nem condicionadas pela
esmagadora maioria das intervenções arqueológicas que são realizadas no nosso
país. Centenas de sítios arqueológicos são anualmente escavados de forma desgarrada,
sem programa específico e sem profissionais devidamente preparados para os
abordar de forma adequada às suas potencialidades. Por isso, o conhecimento
adquirido é tendencialmente incipiente. Por isso, desperdiçamos dia a dia hipóteses
de progredir no conhecimento do passado do nosso território e das populações
que nele habitaram. Por isso, o nosso Património arqueológico pode estar a ser “inconscientemente”
delapidado.
É evidente que não se identificam os sítios porque não
estamos preparados para os identificar. Por isso, sem capacidade de analisar a
realidade, retemos uma visão totalmente parcial dos vestígios arqueológicos e
daquilo que estes nos contam sobre o passado. Assim, a História que produzimos torna-se
mais pobre.
A solução passa por articular investigadores especializados
com profissionais de Arqueologia Aplicada. Tal seria possível desde o despontar
dos projectos, quase sempre relacionados com obras, a partir de uma renovada
exigência dos Arqueólogos em relação à sua profissão e da tutela do Património
em relação à sua responsabilidade legal. Por isso, a apreciação dos planos de
trabalho e das equipas propostas para a sua concretização deveria ser mais
rigorosa e exigente; por isso, também deveria ser fortemente incrementada a
relação entre universidades e empresas de Arqueologia.
Não esqueçamos que a dinâmica da nossa Arqueologia é enorme.
As intervenções sucedem-se. As descobertas relevantes são imensas. E os resultados
em termos científicos poderiam ser enormemente ampliados com os recursos de que
dispomos actualmente.
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