sexta-feira, 28 de março de 2014

058 O NIA na Universidade de Valência


A convite da Universidade de Valência, António Valera, director do NIA, apresentará naquela Universidade, no âmbito de uma ciclo de conferências integrado no Mestrado de Arqueologia, uma comunicação alusiva àquele que tem sido um dos principais focos da investigação do Núcleo desde a sua criação:


Recintos de Fosso e Práticas Funerárias:
Dilemas de categorização na Pré-história Recente do Sul de Portugal.








sábado, 8 de março de 2014

057 - Todos pudemos fazer mais e melhor


Persistem, desde há quase vinte anos, dois problemas de base na arqueologia portuguesa: as fortes limitações  em termos de difusão social e a pouca espessura científica que atingem a grande maioria dos projectos concretizados. Por isso, continuamos a ter muito que evoluir para rentabilizar todas as potencialidades da arqueologia que é encarada (quase sempre) por quem a paga como mero exercício de diletância dos seus praticantes ou como obrigação legal assumida com vista à obtenção de papéis ou assinaturas inerentes a licenciamentos.

É há muito evidente que temos poucos recursos para concretizar uma arqueologia ambiciosa do ponto de vista da prática de campo e dos processos de investigação ou de divulgação. Nunca se ultrapassaram minimamente limitações históricas de afirmação social da arqueologia, indo-se muito pouco além do mero fascínio que cria na generalidade das pessoas.

Para alterar este persistente estado de coisas é necessário que os arqueólogos em Portugal sejam muito mais conscientes do significado social da sua profissão e efectivamente capazes de agir no quotidiano de forma a afirmar o seu papel próprio.

Por isso, os arqueólogos portugueses não se podem conformar com a persistência de baixos níveis de exigência e com práticas que colocam em causa os pressupostos éticos e o sentido final da profissão; todos somos responsáveis e todos pudemos fazer mais e melhor.


Sendo o património finito, é também uma fonte inesgotável de conhecimento e de inspiração para o futuro que nos cabe, sobretudo a nós, difundir. Por isso, tentemos ser mais e mais exigentes, justificando as possibilidades e virtualidades da obtenção de resultados consistentes e socialmente disseminados.

Revelemos o nosso trabalho à comunidade...

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

056 A ocupação rural islâmica no Baixo-Alentejo: os materiais do sítio de Funchais 6 (Beringel)

Muito se tem debatido a pertinência do estreitamento da relação entre a universidade e o meio empresarial e do aumento do fluxo de know-how entre ambas as partes, tentando a máxima rentabilização de recursos e investimento a longo prazo na produção científica. Em arqueologia, o problema é gritante, sendo ainda insuficiente este tipo de cooperações. Atente-se nas reservas de materiais à beira ou mesmo no limite das suas capacidades. A maior parte dos materiais provem de trabalhos de minimização ou escavações de emergência e não serão submetidos a estudos mais aprofundados do que aqueles que a lei exige para a produção de relatórios. Com tanta matéria-prima disponível é de estranhar que tão poucos trabalhos académicos incidam precisamente sobre estes conjuntos.
      Desde a sua criação, o NIA defende a necessidade do estabelecimento de colaborações sistemáticas com a academia, no sentido de potenciar a produção de conhecimento científico, no seguimento dos trabalhos empreendidos pela Era. O exemplo mais recente do sucesso desta política interna surge sob a forma de uma dissertação de mestrado, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: A ocupação rural islâmica no Baixo-Alentejo – materiais do sítio dos Funchais 6 (Beringel). Este trabalho, da autoria de Alberto Cardoso, vem então acrescentar novos dados ruralização do território durante a ocupação islâmica, tendo o estudo incidido sobre os materiais cerâmicos recolhidos no âmbito de diversas estruturas negativas identificadas em Funchais 6, as análises tipológica e tecnológica permitiram determinar que a ocupação do sítio teria decorrido entre os séculos X e XII.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

055 - Conferência do NIA

No próximo Sábado, dia 22 de Fevereiro, António Carlos Valera terá uma comunicação intitulada "A religiosidade na Pré-História: manifestações do sagrado no Neolítico" integrada nas Jornadas de Património Religioso que decorrerão em Montemor-o-Novo.

Aqui fica o resumo:

"As abordagens à dimensão religiosa das comunidades pré-históricas são tão antigas como a própria Arqueologia. Deste o início que manifestações “artísticas” foram relacionadas com sistemas mágico-religiosos e utilizadas inclusivamente como critério de definição da humanidade moderna.

Com frequência, expressões “artísticas”, práticas funerárias e arquitecturas pré-históricas são entendidas como elementos simbólicos que operam num contexto ideológico de forte pendor religioso. No caso concreto do Neolítico, essas manifestações são tradicionalmente vistas como uma adaptação da superestrutura ideológica a uma transformação económica e social promovida pela afirmação da economia produtora, que simultaneamente traduz e viabiliza. Descobertas recentes, porém, documentam a anterioridade de grandes construções de cariz simbólico relativamente ao advento agrícola, revelando o poder motivador das cosmogonias.

Em Portugal, e no que ao Neolítico respeita (entendido num sentido amplo), a temática da religiosidade tem sido pouco pensada e debatida, raramente saindo das ideias há muito feitas (e pouco consubstanciadas).

Procurando renovar o debate, esta comunicação, mais que descrever um eventual sistema de crenças pré-histórico, abordará um conjunto de manifestações e práticas sociais neolíticas que remetem para enquadramentos cosmogónicos e sagrados, os quais permitem discutir a existência ou não de uma religião com corpo doutrinário e normativos bem definidos e diferenciados no período e a questão da relação entre formas de pensamento animista e religioso."

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

054 - Actas do Colóquio “Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practices”


Organizado pelo NIA em Novembro de 2012, o colóquio “Recent Prehistory Enclosures and Funerary Practicescontou com a participação de um importante número de investigadores que se tem debruçado sobre as problemáticas alusivas às dinâmicas de ocupação de recintos de fossos por toda a Europa. O principal enfoque do colóquio foi a exposição e debate das práticas funerárias identificadas e analisadas no âmbito do estudo deste tipo de contextos, dos Cárpatos à Península Ibérica.
 
 
Na sequência desta iniciativa, o NIA prepara agora a publicação das actas do encontro, integrada na International Series dos BAR. Para abrir o apetite, deixo-vos então com o índice deste volume:


Proceedings from the international meeting

“RECENT PREHISTORY ENCLOSURES AND FUNERARY PRACTICES”

(Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon 6 to 8 of November 2012)


SUMMARY


Revisiting the issue of Recent Prehistoy Enclosures and Funerary Pratices.
António Carlos Valera
 
Times and timing of enclosure
Alasdair Whittle
 
Burial & enclosure in middle neolithic Britain: some observations and some problems of continuity.
Alex Gibson 

 The place of human remains and funerary practices in Recent Neolithic ditched and walled enclosures in the West of France (IV- III mill. BC)
Audrey Blanchard, Jean-Noël Guyodo, Ludovic Soler

Funerary practices in the Perdigões enclosure: time, diversity and cosmogony in the treatment conceded to the dead.
António Carlos Valera

Skeletons in the ditch: funerary activity in ditched enclosures of Porto Torrão (Ferreira do Alentejo, Beja)
Filipa Rodrigues
 
Human Bones, Burials and Funerary practices at Perdigões Enclosure
Ana Maria Silva, Cláudia Cunha
 
Human Bones from Chalcolithic Walled E nclosures of Portuguese Estremadura: the example of Zambujal.
Michael Kunst, Anna Waterman

 

Human Bones from Chalcolithic Walled Enclosures of Portuguese Estremadura: Leceia
João Luís Cardoso, Anna Waterman


Human sacrifices with cannibalistic practices in a pit enclosure? The extraordinary early Neolithic site of Herxheim (Palatinate, Germany)
Andrea Zeeb-Lanz

 Gendered burial at a henge like enclosure near Magdeburg, Central Germano: A tale of reverence and ritual killings?
André Spatzier, Marcus Stephen

 The Copper Age ditched settlement at Conelle di Arcevia (central Italy)
Alberto Cazzella, Giulia Recchia

 Funerary practices in the Copper Age settlement of Valencina de la Concepción (Seville): formal diversity and social rank.
Leonardo García Sanjuán 

Funerary Practices in the ditched enclosure of Camiño de las Yeseras: ritual, temporal and spatial diversity
Patricia Ríos, Corina Liesau, Concepción Blanco

Ditched enclosures in La Pijotilla and San Blás (Badajoz, Spain)
Victor Hurtado, Carlos Odriozola

 

sábado, 18 de janeiro de 2014

053 - Investigação científica na ERA Arqueologia



A ERA assumiu, desde a sua fundação, um forte compromisso com a investigação científica nas áreas da Arqueologia e do Património. Ao longo de dezassete anos é inegável que os resultados obtidos são relevantes, quer em termos de produção e difusão de conhecimento, quer em termos de formação e incremento das competências dos colaboradores da empresa.

A nossa estratégia de actuação no mercado tem sempre procurado privilegiar os valores da qualidade e da inovação. Não tem sido fácil, muito pelo contrário. A nossa área é pouco relevante socialmente e os níveis de exigência do mercado e das entidades tutelares não são elevados.

O forte investimento sistematicamente realizado em investigação, essencialmente assente em capitais próprios, tem tido um retorno pouco significativo do ponto de vista financeiro, continuando a administração da ERA a assumir esta aposta numa perspectiva de muito longo prazo. Apesar de algumas vantagens competitivas que dele têm resultado, reconhecemos que a estratégia prosseguida vinca uma postura mais condizente com entidades sem fins lucrativos. Perante o arrastar da actual crise, este modelo é cada vez mais difícil de sustentar.


Independentemente de eventuais apoios do Estado ao financiamento de projectos específicos e à formação avançada dos técnicos da empresa, essencial à obtenção de resultados inovadores e ao alargamento de competências internas, penso que a ERA deverá continuará a investir em investigação científica porque sem ela não será cumprido o seu propósito social, nem tão pouco será verdadeiramente útil aos seus clientes. Por isso, apesar das dificuldades, a visão de futuro da ERA implica a renovação desta aposta  em que toda a estrutura da empresa deverá, quanto a mim, continuar a estar implicada. É uma questão de identidade, de ADN e de convicção num projecto que procura sempre a produção e difusão de conhecimento tal como a plena activação social e económica da Arqueologia e do Património. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

domingo, 2 de junho de 2013

0051 - Oito anos depois...

... da entrega de originais foi publicado o estudo monográfico realizado para o Bloco 5 do plano de minimização da construção da barragem de Alqueva, intervenção da ERA Arqueologia. Tarde, mas saiu (como estão a sair as publicações de vários outros blocos). E isso merece aplauso, tanto mais que esta é uma prática não generalizada aos processos de minimização. O que se percebe mal. Porque razão grandes projectos, como auto-estradas por exemplo, não foram igualmente condicionados à publicação dos resultados dos trabalhos de minimização? Repito: percebe-se mal. Entretanto, esperamos para breve a publicação dos Blocos 9 e 10 do mesmo processo de mitigação, igualmente intervencionados pela ERA.

sábado, 4 de maio de 2013

050 - Investigação de práticas funerárias no NIA



Estrutura com deposições de restos de cremações (Perdigões, Serctor Q)
A investigação das práticas funerárias na Pré-História Recente é uma temática central da actividade do NIA. Participando em dois projectos FCT em curso dedicados a esta temática, foi organizador de um colóquio internacional em Novembro passado na Fundação Calouste Gulbenkian dedicado a esta temática, interveio no colóquio anual da ERA com uma comunicação sobre o recinto (funerário) de Bela Vista 5 e recentemente esteve presente, com comunicação e posters em parceria com o CIAS, no IIº Congresso Internacional sobre Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário realizado na Universidade de Évora.
O próximo passo neste percurso será no próximo dia 11 de Maio em Abrantes, no encontro “A morte protegida. Discursos arqueográficos e discursos mentais. Modalidades funerárias na Pré-História Recente”, com a comunicação :

"Arqueologia da morte da Pré-História Recente no interior alentejano: como uma revolução empírica também depende de uma revolução teórica."  por António Carlos Valera.

Resumo:
"O interior alentejano tem assistido nos últimos anos, e no que à Pré-História Recente diz respeito, a uma catadupa de nova e importante informação, a qual tenho vindo a apelidar de revolução empírica, dada a transformação que implica nos conhecimentos prévios para a região. Os contextos funerários têm participado dessa dinâmica e a visão das práticas funerárias, do Neolítico à Idade do Bronze, tem-se alterado significativamente. Porém, a descoberta de todo este manancial de novos dados reclama por novas posturas teóricas, na medida em que a aquisição de dados e a sua valorização não são feitos num quadro de "tábua raza" ou de neutralidade teórica, mas sim enquadrados por matrizes conceptuais e questionários de construção teórica, que interferem na percepção desses dados e sem os quais muitos deles nem sequer se constituem como tal.

Nesta comunicação, sublinhando as principais alterações que se têm produzido no registo arqueológico de contextos funerários no interior alentejano no período em questão, apresentarei alguns dos reposicionamentos teóricos que considero fundamentais para uma abordagem consequente às problemáticas destas práticas funerárias."

sexta-feira, 29 de março de 2013

049 - Uma janela de oportunidades




No passado fim-de-semana decorreu mais uma Assembleia-geral da APA - Associação Profissional de Arqueólogos. O desenrolar dos trabalhos faz-me acreditar que se reuniram condições mínimas para um reactivar da associação. Em síntese:
- por manifesta irregularidade na sua forma de apresentação, foi retirada a candidatura da única lista que se apresentou às eleições;
– sem candidatos, foi adiado o processo eleitoral e novas eleições deverão ser agendadas para o Verão;
– foi aprovado um "perdão" parcial da dívida dos cerca de 350 associados actualmente suspensos (95% dos sócios).
Estes factos e o próprio ambiente vivido na Assembleia-geral, em que se assumiram de frente os problemas actuais, criaram uma janela de oportunidades para o (re)abrir do diálogo entre a APA e os arqueólogos, independentemente da sua condição de associados.
Para que a associação desempenhe a sua função junto dos arqueólogos, será fundamental implementar uma ambiciosa estratégia de comunicação que permita, por um lado, demonstrar aos associados suspensos que vale a pena regressar à vida associativa, e por outro, que possibilite a entrada de novos sócios. Sob este aspecto, é de destacar a aprovação na Assembleia-geral de uma campanha de angariação de novos associados, assente em vantagens garantidas durante o ano de 2013 pela forte redução de custos de inscrição.
É evidente que continuo a acreditar que a minha proposta de “perdão” total das dívidas acumuladas seria a mais simples, pragmática e capaz de assegurar aquilo que julgo ser pretendido por quase todos, ou seja, o retorno dos sócios e a emergência de uma renovada dinâmica interna. A mera aprovação de uma anulação parcial das dívidas pode não ajudar...veremos.
Infelizmente, dado que a actual equipa directiva não parece reunir condições para estabelecer pontes eficazes de diálogo com os associados, penso que o futuro da APA passa fundamentalmente pela capacidade de análise, discussão e acção que grupos de sócios venham a demonstrar ter. Seria muito vantajoso que, dessa desejada dinâmica, surgissem diversas correntes de opinião que convergissem em mais do que uma candidatura a apresentar às próximas eleições.
Independentemente de tudo, na base do futuro da associação estará sempre uma pergunta que tem que ser respondida: porque vale a pena apostar na APA?

sexta-feira, 22 de março de 2013

048 - Para uma sobrevivência útil da APA


Antes de mais tenho as quotas da APA em dia e, como sócio de pleno direito, irei estar presente na próxima Assembleia-geral da associação, procurando dar o meu contributo construtivo.

A sobrevivência da APA está em causa e o seu esvaziamento é da responsabilidade de todos os sócios. Não nos pudemos conformar com a situação de há muitos anos: uma entidade sem visibilidade, sem acção e sem ligação aos arqueólogos. A APA tem que funcionar e não podemos perder mais tempo com discussões inúteis sobre as razões que motivaram cada sócio a manter uma efectiva relação com a associação. Agora é urgente assumir que estamos no limite e que devemos ter a  coragem de trilhar um caminho consequente que rompa com o triste situacionismo em que estamos mergulhados. Para isso, é vital falar de directamente aos sócios começando por divulgar dados e números concretos sobre aspectos como a percentagem de sócios que estão suspensos (95%?), assumindo o valor concretos da dívida acumulada pelo não pagamento de quotas (€140.000,00??!!) e colocando na base da estratégia de acção a criação de condições mínimas para um eventual retorno daqueles que há mais ou menos tempo estão afastados.

Infelizmente, ao contrário do mencionado por António Silva em comentário à anterior entrada deste Blog, não existe uma “tão grande massa de sócios que queiram agora que lhes seja devolvida a APA”. Provavelmente essa é hoje uma questão que passa completamente ao lado de 99% dos arqueólogos portugueses. No entanto, porque acredito que uma instituição como a APA pode ser útil à profissão, não posso deixar de tentar encontrar soluções efectivas para mudar o estado das coisas, ou seja, para demonstrar ao maior número possível de arqueólogos que vale a pena participar na valorização e afirmação da associação que já existe. Daí o meu contributo materializado numa proposta a submeter à Assembleia-geral de amanhã, na qual lutarei para que nada de ilegal se passe. Sei que os poucos que lá estarão e os pouquíssimos que poderão votar partilham desta minha opinião.

quarta-feira, 20 de março de 2013

047 - A APA e o futuro dos arqueólogos



Aproxima-se a próxima Assembleia Geral da APA – Associação Profissional de Arqueólogos. O actual estado das coisas é grave, assistindo-se a uma paralisia total da vida associativa. Sem dados oficiais, estima-se que 95% (?) dos sócios da APA tenham a sua inscrição suspensa por falta de pagamento de quotas. A dívida dos sócios à associação é gigantesca e, obviamente, nunca será paga. Porquê? Porque o dinheiro é algo de preciosos e já (quase) ninguém acredita na APA. Ou seja, ninguém vai pagar por algo em que não se revê e em cujo futuro não acredita; para quase todos, a APA é hoje um projecto totalmente inexistente ou irrelevante para a sua vida profissional. Se por um lado os sócios estão divorciados da APA, por outro a actual direcção foi incapaz de alterar a situação. E disso deve ser responsabilizada.
No entanto, a APA pode e deve continuar a existir porque o seu projecto continua a ser válido ao serviço da ética profissional, da difusão e incremento das boas-práticas profissionais, como voz efectivamente representativa da maioria dos profissionais junto da sociedade e das entidades tutelares do património arqueológico; enfim, como actor principal na dignificação e afirmação social da profissão de arqueólogo.
 
Para além de intenções, é fundamental agir para a mudança. Podemos fazê-lo; podemos inverter a actual situação de pré-falência da APA. Como? Com uma estratégia que devolva a APA aos associados, a todos os associados, e crie condições para a inscrição de novos arqueólogos. Tal estratégia deverá ter como ponto de partida a anulação das dívidas dos sócios e a criação de possibilidades, se assim o entenderem, para o seu regresso à vida associativa. Esta opção deve ser assumida de forma muito realista por aqueles (poucos) que têm pago as quotas e que, consequentemente, podem votar esta decisão. Pensar que estes serão prejudicados corresponde a uma bizantinice.
A anulação das dívidas deverá ser complementada por uma dinâmica pré-eleitoral assente em projectos e candidatos alternativos a eleger. O que pressupõe que as eleições do próximo sábado não se realizem...
O momento actual é verdadeiramente de risco. A APA está no limite da sua sobrevivência e é impensável imaginar a sua persistência como instituição representativa de um escasso número de profissionais. Assumir tal possibilidade corresponde ao desvirtuar o projecto da associação, à sua eventual extinção e ao abrir caminho para o aparecimento de instituições alternativas à APA.
Os escassos sócios, entre os quais me incluo, que na próxima Assembleia Geral terão de tomar decisões deverão assumir as suas responsabilidades de forma corajosa e com a humildade inerente a quem se projecta num futuro diferente do actual situacionismo. Com bom senso, a APA pode voltar a reunir os arqueólogos portugueses em torno de grandes ideias e objectivos comuns.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

046 - Um prémio para o relançar da APA


 
Ainda em relação à questão do futuro da APA – Associação Profissional de Arqueólogos, é curioso o comentário publicado no Facebook pelo seu vice-presidente, a propósito do não pagamento de quotas por parte de associados: “Quem acredita na APA pagou as quotas de forma a poder exercer e usufruir de todos os seus direitos.” O problema é precisamente esse: já são poucos, demasiadamente poucos, os que ainda acreditam na associação.

Face à actual situação, como proceder? Concordar que a razão está com aqueles que pagam e portanto com aqueles que acreditam na actual APA? Sendo tão poucos (10, 15, 20 para um universo de perto de 400 associados...os dados não estão divulgados...), será que a esmagadora maioria dos sócios é totalmente inconsciente?

Penso que a actual direcção da APA assenta a sua acção e intenção de recandidatura a um futuro mandato numa deficiente análise da realidade e numa incapacidade de proceder a uma auto-crítica minimamente objectiva. A progressiva desmobilização dos membros da APA e a ausência de novos associados parece demonstrar uma profunda falta de empatia entre os seus corpos sociais, os restantes membros da associação e os arqueólogos em geral. Por isso mesmo, é questionável que aqueles que já não pagam quotas e se afastaram da vida associativa sejam recriminados. É que pertencer à APA não é uma questão de fé, sendo antes uma opção assente numa convicção e em expectativas de resultados úteis que não foram, de todo, alcançados pela actual direcção. Por isso, não considero pertinente que os sócios que (ainda) não desistiram e que têm continuado a pagar as suas quotas devam ser recompensados pelo seu esforço, muito menos sendo isentados de quotas durante alguns anos, como alguns já sugeriram.

Este é o tempo de viabilizar o retorno das centenas de membros que deixaram de acreditar. Esse eventual regresso será a única e merecida recompensa para aqueles que mantiveram a APA viva. A partir desse ponto, poderá começar o verdadeiro trabalho assente em ideias inovadoras.
 

Nota final: até ao dia da próxima Assembleia Geral irei pagar as quotas que tenho em atraso.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

045 - O fim da APA é inevitável?


 
Após três anos de um mandato manifestamente infeliz a APA vai reunir em Assembleia Geral, convocada para eleger novos corpos sociais. A reunião, a decorrer no final de Março, corre o sério risco de fazer juntar menos de uma dezena dos cerca de quatrocentos associados. Perante isto, é evidente que a APA, depois de um lento definhar ao longo de vários anos, está agora à beira do fim. Como arqueólogo e como responsável da ERA Arqueologia, considero que a situação é muito preocupante.
 
Face à necessidade estratégica de agir e de procurar mobilizar os arqueólogos em torno de causas fundamentais para o incremento da profissão e respectiva afirmação social, a actual direcção mais não fez do que assistir impávida e serenamente ao esvaziar da missão da APA e à debandada quase total dos seus associados. É provável que hoje, por terem as quotas em dia, apenas vinte sócios estejam em condições de votar. A mudança é quase impossível.
 
Mas, porque será que já quase ninguém paga as quotas? A resposta é simples: porque já quase ninguém acredita na APA. A motivação é nula, a descrença parece irreversível e poucos acreditam no pagamento das dívidas em atraso.
 
 
Será definitivo este afastamento da esmagadora maioria dos sócios?
 
 
Em contraponto ao actual sistema em que os arqueólogos são regulados e controlados pela tutela ou pelas entidades empregadoras, acredito num modelo assente na auto-regulação dos profissionais. Por isso, considero fundamental a efectiva reactivação da APA. Em benefício dos arqueólogos e do nosso património arqueológico.
 
 
Mas, como reabilitar a APA? Como se explica o silêncio da actual direcção face ao aproximar das eleições? Que justifica a sua falta de vontade em motivar os associados a participarem no acto eleitoral, nomeadamente através da discussão de ideias e projectos?
 
Para acreditar que uma mudança ainda é possível na APA, proponho um roteiro simples:
 
1 – que nenhuma candidatura seja agora apresentada uma vez que nas actuais circunstâncias qualquer eleição estará ferida de morte pela sua escassa representatividade;
2 – que seja aprovado, já na próxima Assembleia Geral, um perdão generalizado das dívidas acumuladas pelos sócios, criando-se condições para o seu regresso a uma plena participação na vida associativa;
3 – adiamento das eleições para futura Assembleia Geral e mobilização dos sócios em torno de ideias e projectos alternativos que possam ir a votos.
 
 
O perdão das dívidas é uma solução milagrosa para o relançamento da APA? Não. A solução está na participação dos sócios, de muitos sócios, nas suas ideias e na sua capacidade de agir. Perante a óbvia incapacidade e falta de vontade da generalidade dos sócios em pagar as quotas em atraso, esta parece-me a única alternativa que ainda poderá viabilizar o regresso dos associados ao palco da acção. Se tal não acontecer e se os arqueólogos não agarrarem tal oportunidade, deverá ser frontalmente assumida a falência da APA.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Cabeça de Auroque encontrada no Monte do Carrascal 2






Escavação em laboratório de parte da cabeça de um auroque (bovino selvagem de grande porte, já extinto) recolhido na ocupação mesolítica do sítio do Carrascal 2 (trabalho em curso, da responsabilidade do NIA, realizado no âmbito de um projecto de investigação da FCT)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

043 - Dois elos da cadeia arqueológica: empresas e universidades





A esmagadora maioria dos projectos de Arqueologia realizados em Portugal são concretizados por empresas e são estas que gerem aquela que é, de longe, a mais significativa fatia de financiamento anual aplicado nesta área.

Este paradigma foi criado pela nossa sociedade de fundamentos essencialmente capitalistas e liberais. A estrutura do Património arqueológico em que nos movemos assenta num Estado licenciador e fiscalizador. A quase total incapacidade de investimento público nesta área deixa aos promotores de empreendimentos e a título indemnizatório o encargo de investir em Património: quem afecta, paga.
A tese poderia ser pacífica se os investimentos realizados de acordo com este modelo fossem consequentes e reprodutivos, ou seja, se fossem geradores de conhecimento, se contribuíssem para a salvaguarda do Património, se promovessem valores de civismo e se estimulassem o usufruto do Património pelos cidadãos. Infelizmente, na maior parte dos casos os projectos concretizados não decorrem com a necessária qualidade e a sua visibilidade para o exterior é nula. Dessa forma, muitos são os casos em que o investimento é realizado apenas para garantir um “papel” para que determinadas obras avancem.
 
 
O êxito de uma Arqueologia efectivamente Pública implica a criação de pontes entre os que a concretizam, aqueles que a pagam e os que lhe dão continuidade. É aqui que surge a articulação entre empresas e universidades. Para ampliar as possibilidades de gerar conhecimento a partir dos investimentos realizados, as universidades e as empresas da área da Arqueologia devem trabalhar em conjunto porque são elos de uma cadeia que liga os vestígios do passado com os cidadãos de hoje e do futuro. O ritmo de descoberta e de escavação de tantos e tantos sítios arqueológicos absolutamente relevantes implica uma forte responsabilidade, devendo empresas e universidades actuar de maneira a potenciar os recursos de criação de conhecimento que encerram os vestígios do passado.
 
O Colóquio da ERA, a realizar no próximo fim-de-semana, assenta numa saudável parceria com a Universidade Nova de Lisboa. Colaborar pode não ser fácil porque implica que nos descentremos sempre um pouco do nosso próprio foco. Mas aqueles que tiverem a Visão mais ampla e se dispuserem a alargar os seus horizontes terão mais hipóteses de cumprir a sua obrigação para com a sociedade e para com o nosso Património colectivo. Colaborando, empresas e universidades podem crescer, melhorar o seu desempenho e contribuir para a sociabilização da disciplina.

sábado, 12 de janeiro de 2013

042 - Os perigos da desinformação

A Internet é uma notável aquisição para a comunicação e partilha de informação. Mas, como todas as ferramentas, não está imune à má utilização, No caso que relato, chega a ser hilariante a "caldeirada" noticiada a propósito da descoberta do recinto de Xancra e que poderão consultar aqui: http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/arqueologia01.htm

Apenas algumas notas:

1 - Começa pelo título: "descoberta de uma xancra". Aparentemente não perceberam que Xancra é o nome do sítio e não de um tipo de sítio, o qual chegam a definir : "A imagem dessa nova Xancra – palavra que designa um sítio arqueológico ainda não escavado e aparentemente em notáveis condições de preservação (...)"

2- Logo por baixo aparece a imagem do meu colega Rui Boaventura, que nada tem a ver com o caso, e que documenta a sua descoberta, acompanhado pela descendência, de um ídolo no sítio de Pombal, bem distante de Xancra. Acontece que essa imagem foi publicada no mesmo número da revista Apontamentos de Arqueologia e Património em que foi publicado o artigo sobre a geofísica de Xancra.

3 - Depois publica-se uma nova imagem, legendada como sendo de Xancra e referindo um fosso cheio de materiais calcolíticos, mas que corresponde a um dos hipogeus escavados pela ERA no Porto Torrão.

E no fim disto tudo remete-se o leitor para a Apontamentos.

Faltam as palavras para classificar este tipo de situações, as quais, contudo, servem para que os utilizadores acríticos da net, nomeadamente estudantes, ganhem consciência que a "crítica das fontes" não se aplica apenas aos documentos em pergaminho ou papel. A internet é uma ferramenta notável, que potenciou tudo. O bom e o mau.


domingo, 18 de novembro de 2012

041 - Para uma Arqueologia Social


 
 
Apesar da esmagadora maioria da Arqueologia contemporânea acontecer a “reboque” de grandes obras, não devemos esquecer que ela prossegue objectivos específicos relacionados com processos educacionais, de produção de conhecimento e de salvaguarda patrimonial.

Mais de quinze anos passados desde a emergência em Portugal de uma Arqueologia verdadeiramente profissional, continua a ser inaceitável a ausência de legislação específica sobre a sua sociabilização. Entretanto, ocorreram enormes projectos de obras abrangendo vastos territórios. De entre eles, destacam-se os casos da Barragem do Alqueva e as inúmeras auto-estradas que rasgaram o país, de norte a sul. O que sabem as populações sobre os milhares de sítios arqueológicos escavados e estudados? Que repercussões sociais ocorreram? Quantos casos implicaram articulação com escolas? Não tenhamos dúvidas: activar o Património passa por alterar mentalidades, interagir com populações e estimular os envolvidos na decisão e implementação de obras. No entanto, sem vontade política e legislação orientadora de objectivos a atingir, será difícil aos que ensaiam experiências por conta própria, atingir uma efectiva alteração da realidade.

domingo, 4 de novembro de 2012

040 - Em tempo de mudança...um grande Colóquio



Os tempos não estão fáceis. Quase todos o sentimos.

No ano em que faz quinze anos, a ERA aventurou-se a organizar um grande Colóquio internacional, a decorrer na próxima semana em Lisboa (http://www.era-arqueologia.pt/coloquio/). Dedicado a temáticas da Pré-história recente, nomeadamente em torno dos fenómenos funerários enquadrados em recintos delimitados por fossos ou outras estruturas, este evento é, de alguma forma, o culminar da história da nossa empresa.

Começámos nos Perdigões. O tempo passou e, desde então, tem sido precisamente em torno deste sítio e do seu tempo que aconteceram alguns dos mais espantosos avanços no conhecimento que hoje temos sobre aquilo que, no actual território português, aconteceu antes da nossa passagem por estas bandas: sociedades complexas, muito dinâmicas e em crescente transformação. Há mais de cinco mil anos, o mundo estava a mudar e a nossa perspectiva sobre o que então se passava tem-se alterado. Tenho particular orgulho no papel que a ERA e as suas equipas desempenharam e continuam a desempenhar, nesse processo tão activo.

Quanto à organização do Colóquio, saliento todos os que, dentro da ERA, colaboraram na sua organização. Foi um trabalho de equipa liderada por António Valera: a ele devemos a ideia, a persistência e a capacidade de romper fronteiras.

Aos convidados portugueses e de tantos outros países europeus agradecemos a disponibilidade para desbravar novos horizontes, a partir do debate de ideias.

A todas as entidades que colaboraram, um agradecimento especial. Um destaque final para a Fundação Calouste Gulbenkian.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

VI Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular


O NIA, Núcleo de Investigação da Era Arqueologia, está neste momento a participar no VI Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, em Villafranca de los Barros (Badajoz), através da apresentação de quatro comunicações e um poster.

Juntamente com Ana Maria Silva, Ana Isabel Fernandes e Victor Filipe, António Valera apresentará a comunicação: "Os Hipogeus Neolíticos do núcleo C do Sítio Outeiro Alto 2: Práticas funerárias e paleobiologia dos restos ósseos recuperados".


O sítio arqueológico do Outeiro Alto 2 foi identificado em contexto de trabalhos de minimização da execução do Bloco de Rega de Brinches e intervencionado pela Era Arqueologia S.A. Revelou-se um local complexo, constituído por um recinto com fosso, fossas e hipogeus de cronologias e morfologias diversas. Foram definidos quatro núcleos de estruturas negativas (A,B,C e D) com cronologias que vão desde o Neolítico final até à Idade do Bronze. O presente trabalho aborda os 3 hipogeus identificados no núcleo C e cujos materiais associados sugerem uma cronologia do Neolítico final. Estes hipogeus revelaram inumações primárias e diversos ossos humanos desarticulados, provavelmente consequência de manipulações intensas ao longo do tempo. Será também apresentado e discutido o perfil biológico dos restos ósseos humanos exumados destes três hipogeus, como contributo para a caracterização dos indivíduos que foram sepultados nestes túmulos.


António Valera e Ana Maria Silva apresentarão ainda a comunicação: "A temporalidade dos Recintos dos Perdigões: cronologia absoluta de estruturas e práticas".

Nesta comunicação será apresentado um conjunto alargado de datações de radiocarbono relativas a várias estruturas dos recintos de fossos dos Perdigões. Estas datações são referentes a vários fossos e estruturas funerárias, permitindo aprofundar a temporalidade deste importante sítio arqueológico. Dispõe-se, agora, de uma sequência que revela uma longa diacronia de ocupação, desde o Neolítico Final até ao Calcolítico final / Idade do Bronze, ao mesmo tempo que se começa a delinear o desenvolvimento espacial do sítio ao longo dessa cronologia. Simultaneamente, este conjunto de datações permite começar também a ancorar no tempo a grande diversidade de práticas funerárias documentadas no sítio.

Com Lucy Shaw Evangelista, António Valera falará sobre o "Marfim no Recinto Calcolítico dos Perdigões (2): figuras antropomórficas e o problema da representação naturalista do corpo humano".

São apresentadas as figuras antropomórficas em marfim provenientes dos Perdigões, associadas a um conjunto de cremações datadas de meados / terceiro quartel do 3º milénio cal AC. Partindo da contextualização destas peças no contexto das produções de estatuária ideográfica do 3º milénio do Sul Peninsular, procura-se questionar a existência de um caminho de representações mais esquemáticas para outras mais naturalistas e uma procura da proporcionalidade do corpo humano nestas representações.
Articulando esta tendência com o carácter canónico da postura que estas representações antropomórficas parecem exibir, procurar-se-á explorar caminhos interpretativos sobre o desempenho social destas pequenas esculturas.

Ainda com Ana Maria Silva e com Tiago Tomé, António Valera vai apresentar os dados preliminares de um conjunto de inumações na região de Brinches, Serpa, numa comunicação designada "Práticas funerárias na Pré-História Recente do Baixo Alentejo".

Os últimos anos assistiram à descoberta e escavação de numerosos contextos funerários de cronologia pré-histórica no Baixo Alentejo, particularmente fruto do desenvolvimento de projectos de infraestruturas como aquelas relacionadas com o empreendimento da Barragem do Alqueva, entre outras.
Apresentamos aqui os resultados preliminares da análise que vem sendo desenvolvida no âmbito do projecto “Práticas Funerárias da Pré-História Recente no Baixo Alentejo e Retorno Sócio-Económico de Programas de Salvamento Patrimonial” (PTDC/HIS-ARQ/114077/2009), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, sobre os espólios osteológicos humanos provenientes de diversos contextos funerários do 4º ao 2º milénio a.C. da região de Brinches (Serpa), escavados em intervenções de minimização de impacto arqueológico levadas a cabo pela ERA – Arqueologia, Conservação e Gestão de Património.
Com base nos dados recolhidos em campo e posterior estudo laboratorial dos restos osteológicos humanos exumados, pretende-se contribuir para o conhecimento sobre as práticas funerárias e o perfil biológico dos indivíduos que foram inumados nesta região da Bacia do Guadiana na Pré-História Recente.

Finalmente, será apresentado um poster com o título "Os ossos humanos cremados da fossa 16 do recinto dos Perdigões: a quem pertenciam?", da autoria de Ana Maria Silva, António Valera, Inês Leandro e Daniela Pereira

Na área central do recinto dos Perdigões foi identificado uma fossa (16), contendo restos ósseos humanos, cerâmica e fauna diversa. A respectiva escavação veio revelar tratar-se de um depósito secundário correspondendo ao despejo de restos de ossos humanos cremados, restos faunísticos e cerca de meia centena de pontas de seta e fragmentos de ídolos em marfim, material que se apresentava igualmente intensamente queimado. O despejo deu origem a um formato cónico do depósito, cujas laterais foram depois preenchidas por outros 2 depósitos com escassos restos ósseos humanos mas abundantes restos faunísticos e alguma cerâmica.
Neste trabalho serão apresentados os resultados do estudo laboratorial dos restos ósseos humanos. Este revelou que todo o espólio ósseo humano esteve sujeito à acção de fogo, de diversa intensidade. Predominarem os vestígios ósseos sujeitos a altas temperaturas (> 900º), revelado pelas alterações registadas em termos de cor, tipo de fracturas e deformações. Este espólio terá pertencido a um mínimo de 9 indivíduos, 3 dos quais faleceram antes de atingir a idade adulta. Serão ainda apresentados algumas inferências sobre a prática funerária envolvida e dados demográficos, morfológicos e paleopatológicos dos restos ósseos recuperados.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

OS PERDIGÕES NAS ESCOLAS DE REGUENGOS DE MONSARAZ


Consideramos muito importante que o património arqueológico faça parte da identidade das comunidades. Por isso, aceitámos o convite da Câmara Municipal para integrar o encontro de recepção aos professores do agrupamento de escolas de Reguengos de Monsaraz.

O objectivo da nossa participação cumpriu-se: numa palestra muito orientada, o António Valera apresentou os Perdigões aos professores adaptando as várias dimensões dadas pela interpretação do complexo arqueológico a diversos conteúdos programáticos de diferentes níveis escolares. Com isto, pretendemos sugerir que os Perdigões, como elemento unificador de uma vasta região, possam ser a base de uma abordagem interdisciplinar no ensino.

Encontramo-nos a trabalhar conjuntamente com as escolas da região no sentido de viabilizar esta proposta, no sentido de tornar os Perdigões uma presença permanente na comunidade. 

Ao longo deste ano lectivo, iremos orientar e colaborar numa série de actividades destinadas ao público escolar e os Perdigões serão o cenário de todas elas. 

Aqui faremos, sempre que possível, a "revisão da matéria dada".







sexta-feira, 13 de julho de 2012

037 - Arqueologias de costas voltadas


Sem investigação a Arqueologia não faz sentido.

Considero que um dos problemas mais graves da Arqueologia portuguesa assenta no facto das problemáticas inerentes à investigação científica não serem plenamente condicionantes nem condicionadas pela esmagadora maioria das intervenções arqueológicas que são realizadas no nosso país. Centenas de sítios arqueológicos são anualmente escavados de forma desgarrada, sem programa específico e sem profissionais devidamente preparados para os abordar de forma adequada às suas potencialidades. Por isso, o conhecimento adquirido é tendencialmente incipiente. Por isso, desperdiçamos dia a dia hipóteses de progredir no conhecimento do passado do nosso território e das populações que nele habitaram. Por isso, o nosso Património arqueológico pode estar a ser “inconscientemente” delapidado.

 A recente identificação na margem esquerda do Guadiana de um sítio datado da Pré-história Antiga, mais propriamente do Paleolítico Superior e Médio, suscita, pelo seu carácter inédito, enorme perplexidade. Como é possível que no Alentejo sejam tão escassos estes sítios, apesar da quantidade imensa de obras fortemente intrusivas que ali têm sido realizadas com acompanhamento arqueológico, nomeadamente de barragens, sistemas de rega ou estradas? As razões são simples: falta de preparação das equipas de prospecção arqueológica e de acompanhamento arqueológico de obras; total incapacidade de investigadores especializados em proporem inovadoras estratégias de actuação e de articulação entre Arqueologia de Investigação e Arqueologia de Salvaguarda; incapacidade da tutela do Património reagir a manifestas lacunas de informações, inequivocamente relacionáveis com problemas de gestão científica do território.

É evidente que não se identificam os sítios porque não estamos preparados para os identificar. Por isso, sem capacidade de analisar a realidade, retemos uma visão totalmente parcial dos vestígios arqueológicos e daquilo que estes nos contam sobre o passado. Assim, a História que produzimos torna-se mais pobre.

A solução passa por articular investigadores especializados com profissionais de Arqueologia Aplicada. Tal seria possível desde o despontar dos projectos, quase sempre relacionados com obras, a partir de uma renovada exigência dos Arqueólogos em relação à sua profissão e da tutela do Património em relação à sua responsabilidade legal. Por isso, a apreciação dos planos de trabalho e das equipas propostas para a sua concretização deveria ser mais rigorosa e exigente; por isso, também deveria ser fortemente incrementada a relação entre universidades e empresas de Arqueologia.

Não esqueçamos que a dinâmica da nossa Arqueologia é enorme. As intervenções sucedem-se. As descobertas relevantes são imensas. E os resultados em termos científicos poderiam ser enormemente ampliados com os recursos de que dispomos actualmente.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

036 - Diagnósticos arqueológicos válidos?

A experiência acumulada em Portugal em termos de diagnósticos arqueológicos realizados em grandes obras públicas, nomeadamente em auto-estradas, barragens, grandes sistemas de rega, etc., suscita alguma reflexão.

Genericamente, os diagnósticos são realizados tardiamente, raramente contribuindo para a ponderação das decisões finais relativas aos projectos de obras.

Realizando-se, normalmente, após aprovação dos projectos de obras, são apenas uma fase dos processos de escavação arqueológica de minimização de impactos, desvirtuando-se a sua natureza prospectiva e de antecipação.

Normalmente, a execução de diagnósticos está colada à identificação superficial de vestígios arqueológicos ocorridos em fases de prospecção enquadradas nos estudos prévios ou paralelos à elaboração dos projectos; sabemos hoje que a maioria dos sítios arqueológicos são identificados em fases de obra...

Sendo a maioria dos sítios arqueológicos enquadrados em áreas a afectar por obras identificados tardiamente, deveríamos concluir que as estratégias que têm sido aplicadas apresentam deficiências. Por isso, deveremos rever as formas de actuação ao nível dos diagnósticos arqueológicos, tornando-os verdadeiramente úteis para a salvaguarda do Património e inequivocamente consequentes ao serviço do planeamento e execução de obras.

Para que os diagnósticos sejam de facto consequentes e úteis, deveríamos exigir resultados mais seguros dos diagnósticos através da diversificação das ferramentas metodológicas aplicadas e da ampliação das amostragens mínimas necessárias, valorizando-se mais as incertezas perceptíveis em áreas nas quais nada se conhece à superfície.

Os diagnósticos, quer sejam concretizados através de acções intrusivas como as escavações arqueológicas, quer sejam obtidos por métodos não intrusivos como as prospecções geofísicas, deveriam ser encarados como verdadeiras ferramentas de trabalho e não como um fim em si mesmos.

A título de exemplo, aqui ficam duas imagens de diagnósticos realizados no traçado de auto-estradas. No primeiro caso, temos um diagnóstico realizado em Portugal; no segundo caso, temos a abordagem implementada em França. As diferenças são evidentes, provavelmente proporcionais aos resultados atingidos em termos de salvaguarda de Património e de segurança fornecida aos gestores de projectos de obras.


terça-feira, 19 de junho de 2012

0035 - NIA em congressos

No âmbito dos projectos FCT que desenvolve, o NIA estará presente no Encontro Anual da Associação Europeia de Arqueólogos, com duas comunicações e um poster:
Impact evaluation approaches to “negative” archaeological contexts
(session: Methodology in Preventive Archaeology: Archaeological Evaluations)
Anthropomorphic figurines at Perdigões Chalcolithic enclosure: realistic human proportion and body canonical posture and look as forms of ideological language. (session: Body Categories and Identities, Health, and Society in Ancient Europe)
Deposition of cremated human remains at Perdigões chalcolithic enclosure (South Portugal)  (em colaboração com o CIAS)
(session: Cremation in European Archaeology)